O trabalho de pensar em um nome

Por que é luz, da lua e cheia?



Tô de volta, pra tristeza dos que não são felizes

Uma das partes mais importantes de uma obra, na minha visão, é o nome. Penso assim, porque, tal como é com uma pessoa, o nome nada mais é do que a identidade de alguém. Nesse caso, de algo. Aliás, acho até mais importante a escolha da nomenclatura de um objeto, marca ou produto, do que de uma pessoa. Afinal, existem milhões de brasileiros chamados “João” por nossas terras. Porém, mesmo que seu significado tenha sido levado em consideração no momento da escolha, isso não quer dizer que todos os cidadãos com esse nome exercerão a mesma função na sociedade. Resumindo: há diversas razões que levam as pessoas a escolherem os nomes para seus filhos, mas isso não exatamente vai definir o futuro dessas criações. Por outro lado, quando escolhemos o nome para outra coisa que não um ser vivo, já temos em mente sua finalidade.

Atenção: em casos de empresas, usarei como exemplos apenas nomes de marcas que não mais existem. Questões de patrocínios, sabe como é, né... não que eu tenha algum. Aliás, se quiser patrocinar, manda ver...

Obviamente, quando se escolhe um nome, ele não precisa exatamente ser relacionado com sua proposta de serviço. Alguém lembra das lojas Arapuã (que eu lembre, elas faliram, né?). Se não lembra, era uma loja de produtos diversos – eletrodomésticos, em especial – lá dos anos 90/ início dos anos 2000. E bom... acho que não é preciso pensar muito para saber que a palavra “arapuã” não tem a mínima ligação com eletrodomésticos. Mas, também não nos passava uma ideia errada do que havia por lá.

Dando um exemplo mais prático, na minha cidade existia uma lancheria – ou lanchonete. Aqui no Sul, é lancheria – chamada “senhor dos pastéis”. E sim! Tinha uma com esse nome na cidade onde eu morava, no interior. Digo isso, por que vi diversos relatos de existir uma “senhor dos pastéis” em diferentes cidades do Brasil, o que me leva a crer que esse foi o trocadilho infame mais criativo da história. Nunca me esqueço a crise de risos que tive, quando vi a foto do menu com o Frodo segurando uma cestinha de pastéis, ao invés do anel. Ou da fachada, onde o Aragorn segurava um pastel no lugar da espada. Entretanto... voltando ao foco, creio que seria um pouco estranho você entrar em um lugar chamado “senhor dos pastéis” e descobrir que lá, se vende cachorro-quente. Acho que concordamos de que, nesse caso, não há nada no nome que deixe minimamente subentendido que o local vende cachorro-quente. Pelo contrário, já que seu objeto de venda está especificado no nome. Nada impede de o local também passar a vender cachorro-quente, ou alguma outra coisa. No entanto, obviamente você espera que o carro-chefe do estabelecimento sejam pastéis, não é?

Talvez o máximo que possa acontecer, é de haver um nome ambíguo, que possa fazer a pessoa pensar em algo diferente do que é sua proposta. Suponhamos que haja um local chamado “doce desejo”. Seria uma nomenclatura bastante interessante, tanto para uma confeitaria, quanto para uma daquelas lojas de artigos adultos. Sendo assim, seria necessário tentar buscar mais informações para saber qual o tipo de serviço do local. E não... antes que me perguntem, não conheço nenhum estabelecimento com esse nome específico.

Mas, partamos agora para as mídias de entretenimento. Nesses casos, é sempre bom que o nome faça alguma referência à história. Vejo o título de uma obra como a porta de entrada para o universo presente no enredo. Pelo menos, na maioria dos casos, já que, até hoje, não sei o que “água sanitária” tem a ver com uma sociedade de caçadores espirituais. Um exemplo que ouvi de muitas pessoas mais jovens com dúvidas quanto a isso, foi da extinta e saudosa (ou nem tanto) “Malhação”. Todo mundo sabia que as tramas, apesar de mudarem o foco conforme a temporada, tinham como base as ocorrências na vida de pessoas entre a adolescência e o início da vida adulta. Mas por que o raio de nome “Malhação”? Simplesmente porque o início da história foi dentro de uma academia. Basicamente, ninguém imaginava que esse negócio (não sei definir se é uma novela ou o que) ia durar mais do que a carreira do Túlio Maravilha e passar a ter outros cenários de fundo.

Todavia, essas são as exceções. Por regra, obras literárias, ou cinematográficas, tem nomes que fazem referência ao enredo, ou algo presente nele. Podem haver exceções de algumas obras literárias, como poemas, onde já vi muitos cujo nome não me faz sentido algum ao que está escrito neles. Mas, não entendo muito sobre poesia. Perguntei para minha esposa e coautora, que, inclusive, já teve até um poema publicado em uma coletânea, e ela tentou me explicar o contexto dos nomes, o que quase me causou um AVC. Filmes mais conceituais também costumam ter nomenclaturas mais abertas a interpretações, visto que a intenção em sua produção é semelhante à de poemas, instigando o consumidor da obra a pensar além do que é visto. No mais, o básico. Não vou citar exemplos, mas se você pegar qualquer que seja o filme, verá que o nome tem ligação com o enredo a não ser que você seja muito azarado de pegar uma das exceções que eu falei.

Para “Luz da lua cheia”, usei o conceito mais básico. A lua cheia é praticamente a base do enredo, como é visto no primeiro capítulo, o qual inclusive leva “lua cheia” no nome, e é explicado no segundo. Obviamente, todos sabem que quando a lua atinge sua fase cheia, ela emite o máximo de seu brilho, como você bem deve lembrar das aulas de ciências, onde aprendeu que a lua é um astro iluminado (no fundamental, se eu ainda lembro... e olha que faz tempo!). Por último, foi a chance de fazer um trocadilho com um dos nomes japoneses que eu mais acho bonito. Afinal, creio que a maioria também deve saber, mas caso não saiba, o nome da minha protagonista, Hikari, escrito com o kanji (), se traduz como “Luz”, podendo também ser traduzido como “brilho”, “resplendor” e relacionados, tal como a palavra “luz”, a depender do contexto, pode ter diferentes pronúncias quando traduzidas para o japonês, como hikaru e kou, ainda sob o mesmo kanji (). Nesse caso, se levar em consideração o que foi dito no capítulo 2, faz muito mais sentido. Afinal, Hikari passará a atuar nas noites de lua cheia.

Inicialmente, também andando conforme a temática, o primeiro nome que pensei para a série foi o de “Luz das almas”. E, respondendo por antecedência, sim! Desde o início tinha a intenção de incluir a palavra “luz” no título. Porém, ao pesquisar no Google, encontrei um livro com este mesmo nome. Então, decidi por apenas fazer uma pequena alteração para “Luz dos espíritos” já que manteria a mesma proposta e só trocaria uma palavra para um sinônimo. Contudo, minha esposa me convenceu de que o nome não ficaria bom comercialmente, porque poderia confundir pelo nome, fazendo o público pensar que se tratava de uma obra relacionada à doutrina espírita. Novamente ela estava certa. Consultei minha mãe que segue essa doutrina religiosa, perguntando se ela pegaria um livro chamado “Luz dos espíritos” da estante de uma livraria, sem falar qual seria o tema de seu conteúdo, e ela respondeu que sim.

P. S.: ela certamente não vai lembrar dessa história, porque tenho certeza de que ela estava com a cabeça em outro planeta. Conheço a mãe que eu tenho e as maravilhas genéticas que ela passou para o filho. Essa “maçã cabeça de vento” não só caiu perto da árvore, como ficou presa nas raízes.

Resolvi, então, pensar em alguma coisa que não tivesse relação com almas, mas com alguma outra coisa presente no enredo e que pudesse ter alguma ligação com a palavra “luz”. Foi aí, que recordei sobre as famigeradas missões que ocorrem durante a lua cheia. No fim das contas, fiquei com a sensação de que “Luz da lua cheia” fez mais sentido e ficou muito mais legal, além de me dar a sigla “LLC”, que acho maneira. E apesar de ter ficado com uma pegada meio mahou shoujo, realmente gostei. Até porque, seja como for, a série fala sobre magia, embora não tenha garotas se transformando em guerreiras que usam roupas de colegial por mais que a Hikari apareça na escola em alguns momentos... você entendeu, né?!

Desta forma, encerro minha dissertação semanal. Obrigado pela paciência e, por antecedência, pelo apoio, pois a partir daqui, convido você a conhecer o primeiro capítulo de “Luz da lua cheia”, disponível em formato e-book e livro físico na Amazon.

Salve e até o próximo domingo...

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Hikari Nakata