A cabeça de um autor
Sem comentários mentira! Comenta aí! Me ajuda a engajar,
por favor...
Eu gostaria de começar esse texto dizendo que todos os
autores têm alguma fonte externa de inspiração. Mas, só posso falar por mim.
Sendo assim, resolvi trazer aqui, hoje, a fabulosa (ou nem tanto) história de
como minha mente viu em uma abertura na parede, a inspiração para criar uma
história que gerou conteúdo para ser dividida em 10 volumes.
Para começar, creio que não seja só comigo, ou, pelo menos,
já vi, ouvi, ou li diferentes autores relatarem sobre suas fontes de
inspiração. Em absolutamente TODOS, fica claro que suas obras foram escritas
baseadas em temas que conheciam. Não que tenha sido algo que tenham vivido. Um
autor que escreve sobre viagem no tempo não precisa exatamente ter viajado no
tempo. Até porque, né... porém, já existem diversas obras, fictícias ou
estudos, e discussões sobre o tema que podem ser usadas como material de pesquisa
para uma temática deste gênero. Uma obra escrita por alguém sem qualquer
conhecimento sobre seu assunto central ou plano de fundo, acaba sendo, em
geral, uma obra rasa, sem alma, onde as coisas simplesmente acontecem por
acontecer, e não porque precisam acontecer (parece a mesma coisa, mas vejo como
fatores diferentes). Obras assim, não se diferenciam de histórias geradas por
IA, onde, do nada, surge um fator completamente desconexo com o enredo central,
ou toma um caminho sem qualquer ligação com sua proposta.
Me usando como exemplo: (coisa que detesto fazer, mas, como
disse antes, só posso falar por mim) redigi, corrigi e editei em um período de,
mais ou menos, cinco anos, uma história baseada em obras japonesas
contemporâneas, dando ênfase na mídia de animação (anime), sendo que eu sou fã de tais obras e as assisto desde a
infância, guardando estereótipos, informações e os moldes básicos de enredos do
tipo. Ou seja: mesmo que eu esteja longe de ser um expert no assunto, tenho conhecimento sobre o que quis escrever,
tendo ainda pesquisado diversos fatores sobre os quais tinha dúvidas, para
deixar a retratação mais fiel possível. Em geral, eram fatores culturais sobre
o modo de vida do povo japonês, pois apesar de considerar os estereótipos
importantes (com exceção dos ofensivos, claro), principalmente em passagens
cômicas, utilizar apenas eles, que, a depender da obra, são bastante acentuados,
é algo errado e podem caracterizar um comportamento que não é considerado
comum, sendo apenas uma característica com fins fictícios. Portanto, sempre é
importante conhecer o tema sobre o qual vai escrever. Se já conhece, mesmo
assim, tente conhecer ainda mais.
O resto vai da imaginação do autor. Geralmente, as
personalidades dos componentes do enredo são baseadas em pessoas que
conhecemos. Posso dizer que em todas as personagens femininas de “Luz da lua cheia”, há um pouco da minha esposa, que é a mulher com quem tenho maior tempo
de convivência. Misturo isso com algo de outra pessoa que conheço, algum
estereótipo mais leve, algo de um personagem que já vi e... Voilà! Está feito meu “Frankenstein” (eu sei que esse é o nome do doutor, você entendeu!).
Mesmo as aparências destes não surgiram do nada. É comum se inspirar em
personagens já existentes, características físicas de pessoas conhecidas (do
círculo pessoal, ou celebridades) ou, até mesmo pensar em algo por achar que
tal detalhe no design combinaria mais com a personalidade deste personagem.
Por último, posso citar acontecimentos ocorridos na vida de
quem escreve um conto. Seja algo que gera uma inspiração instantânea (meu
caso), ou uma ocorrência passada, essas situações costumam servir de gatilho
para a imaginação aflorar. Cada pessoa possui suas marcas pessoais. Suas
individualidades, que ajudam na remodelação de uma ideia para a forma de um
trabalho artístico, em geral. Como havia dito na primeira postagem do blog, sou
diagnosticado com TDAH. Isso quer dizer que meu cérebro está em constante
atividade. Não há nenhum momento do dia onde eu esteja com a cabeça 100% limpa (liberado
o momento 5ª série). Como nunca aprendi a desenhar, tendo uma habilidade de
fazer até os famosos stickmen parecerem
ter saído direto do purgatório, de tão horrendos, comecei a passar para o papel
(para o telefone, no caso) as ideias que minha cabeça gerava em momentos de
tédio, que, na época em que comecei a redigir “LLC” (sigla maneira) era uma
constante na minha vida. E vocês vão entender o porquê.
Dito isso, vamos à estranha história que me gerou a
inspiração para criar o universo de “Luz da lua cheia” (que, acredite, é bem
extenso!).
Lá por volta de 2015, comecei a trabalhar para uma rede de shoppings bem famosa aqui do RS. Fiquei
quase seis anos naquele local, sendo que, em todo esse tempo, trabalhei apenas
os dois primeiros meses durante o dia. Depois, fui realocado para o horário da
madrugada, para o qual já tinha pedido transferência. Depois de um tempo, comecei
a trabalhar no estacionamento deste shopping,
ainda no setor da segurança. Obviamente, chegava um momento onde havia um
absoluto NADA para se fazer. Cada um cuidava do seu posto, enquanto eu,
basicamente, andava por todos os cinco andares do estacionamento (subsolo até o
4º andar). Para piorar, o ansioso aqui, no final da adolescência, desenvolveu
um hábito pouco saudável, que não vou nomear, pois não quero ninguém perdendo
tempo, dinheiro e saúde com isso (mas que, graças a Deus, consegui parar, mesmo
que com muita dificuldade), mas envolve fazer fumaça, deixemos subentendido.
Meu encarregado não enchia o saco quanto a isso, já que ele fazia a mesma
coisa. Só haviam duas condições: não ter serviço a ser feito e ficar longe das
câmeras. Com o tempo, conheci cada canto daquele shopping, ao ponto de, caso fosse de minha vontade, entrar e sair
de lá sem ser pego por qualquer câmera, sendo que muito foi graças a este mesmo
encarregado, que não só me ensinou os “pontos cegos” para poder esfumaçar, como
me treinou na central de CFTV para quebrar um galho quando preciso.
— “AH, MAS E DAÍ?!! VAI FALAR DA B0ST4 DA INSPIRAÇÃO, OU
VEIO AQUI CONTAR TUA HISTÓRIA DE CAPACHO DA CLT?!!!”
Vai na manha... já tô chegando lá!
Esse shopping,
quando comecei a trabalhar lá, já tinha seus 15 anos, desde a inauguração. E
como todo bom lugar bastante frequentado, com certo tempo de funcionamento e
que conta com uma pouco ocupada equipe da madrugada, este também possuía suas
“histórias de terror”. A mais famosa era a do “capa preta”, que seria uma
criatura de forma humana avistada algumas vezes, mas que ninguém nunca havia
conseguido ver o rosto, pois, segundo os relatos, como o próprio nome sugere,
estava encoberto por uma longa capa preta. Ainda haviam relatos de outras
histórias relacionadas a avistamentos, ou pessoas mais “sensitivas”, que não se
sentiram bem em certos locais do prédio. Eu mesmo considero que nunca tive uma
experiência sobrenatural, nem avistei algo anormal com exceção do meu pai no
banho, mas, por várias vezes, ouvi portas corta-fogo batendo. Essas portas
faziam barulhos bem característicos e, por isso, era fácil reconhecer o som de
alguma. Sei que podia ter uma explicação lógica, sendo que eu sempre fui
muito cético. Mesmo assim, era estranho ouvir essas portas baterem em vários
lugares diferentes do prédio, por diversas vezes ao longo da noite.
Finalizando a sessão terror, mas falando de situações reais
e tristes, esse lugar foi palco de alguns óbitos ao longo do seu tempo de
funcionamento, sendo a maioria por causas naturais, menos mal. Somente no tempo
em que eu trabalhei lá, lembro de três ocorrências. Sem contar as que meus
colegas mais antigos contavam. Inclusive, certa vez, lembro de ter ido ensinar
um colega recém transferido do dia a fazer nossa ronda. Ele tinha acompanhado
um caso do tipo, ocorrido poucas semanas antes, tendo ajudado no atendimento à
vítima. Apesar do insucesso, a equipe foi elogiada pelos médicos pela prontidão
e preparo. Ou seja, não teve jeito. Mas, voltando ao foco, lembro que estávamos
no corredor de uma porta corta-fogo, bem iluminado, nos dirigindo para o
terceiro andar, que por acaso, foi onde havia acontecido o citado ocorrido. Era
um andar que ficava com as luzes totalmente apagadas, só sendo acesas quando
solicitado por rádio. Fiz a solicitação e, já acostumado, saí pelo estacionamento
escuro, aguardando a iluminação. Quando percebo, meu colega não me acompanhou.
Olho para trás e vejo ele escondido atrás da porta, não arredando o pé de lá
até a primeira luz ser acesa. Pelo menos, ele não negou que estava com medo e
com um certo trauma recente. Compreensível. E isso nos leva para a parte final
dessa história.
Por volta de 2018 (ou 2019, já não lembro bem) em uma determinada madrugada, fui fazer cosplay de chaminé no último piso do
estacionamento, que, igualmente o mencionado no parágrafo anterior, só tem suas
luzes acesas mediante funcionamento ou solicitação. Lá, havia um ponto perfeito
para ter esses cinco minutos de “prazer prolongado e vida encurtada”. Nesse
andar, haviam as chamadas “capelas”, que nada mais eram do que enormes janelas,
embora sem vidros, abertas nas paredes do estacionamento. Eram por volta de 3
horas da manhã, quando eu desembarquei por lá, saindo do elevador de serviço.
Quando paro no ponto exato, minha primeira visão é a enorme lua cheia, do lado
de fora obviamente, jegue. Assim que comecei o que tinha ido lá para
fazer, tive um pensamento rápido:
“Por que todas aquelas histórias de terror e coisas do tipo
sempre acontecem em noites de lua cheia? ”
O efeito dessa reflexão foi imediato. A partir dali, não sei
como, meu cérebro ligou o que eu pensei à todas as histórias que ouvi por lá.
Isso formou uma temática na minha cabeça. Depois, já saí pensando em uma
história base, personagens, plano de fundo e assim sucessivamente. Claro que
não pensei em tudo na mesma hora. Acho que os últimos detalhes que planejei
para todo o enredo de “LLC” pipocaram na minha cabeça em 2022. Entre esse
tempo, criei personagens, defini seus papéis, planejei arcos, organizei e
descartei ideias, entre várias outras etapas da história que ficaram maturando
nessa bagunça organizada que é minha cabeça. Porém, consegui bolar o “basicão”
em cerca de duas semanas.
Chega, então, o ano de 2020. E, com ele, vem aquilo que
vocês já sabem. Com isso, o serviço que já era resumido, praticamente morreu.
Foi nessa época que decidi dar um basta em ficar apenas assistindo aquele anime que produzi na minha mente e
resolvi transformar em palavras. Juntei meu celular na época, que era um J1
Mini (tá rindo do quê?), abri aquele aplicativo que me serviu como um salvador,
chamado “Samsung Notes”, me meti em um ponto cego e comecei a despejar o que eu
pensava.
Escrevi os quinze primeiros volumes da série, até começar a
passar por um período meio turbulento, pouco antes e depois de sair do shopping. No ano seguinte, comecei a
trabalhar relativamente perto de casa. Eram quarenta minutos de caminhada, mas
que eu usava para arejar a cabeça. Nisso, meu cérebro começou a lembrar da
história e, de repente, me peguei voltando a focar na minha série. Todos os
dias eu usava a caminhada para pensar em algo novo. Depois, no intervalo do
serviço ou já em casa, escrevia o que planejei. Sem contar a ajuda que tive da
minha esposa, já que pedia para ela ler cada vez que eu finalizava um capítulo.
Aproveitei várias opiniões dela e usei na composição do enredo, sendo que até
determinados personagens foram criados graças à ajuda dela. Não à toa, o nome
dela aparece nos créditos de “LLC” como coautora. No ano seguinte, escrevi o
último capítulo em um único dia, embora ele já estivesse mentalizado. Quando
coloquei o ponto final, senti uma sensação estranha. Foi um misto de satisfação
e meio que uma melancolia, por ter encerrado meu primeiro projeto literário.
Realmente me apeguei à essa história. Depois, fui corrigindo detalhes e pegando
possíveis pontas soltas, até chegar na versão final, que é esta disponível na
Amazon e que ainda terá seus outros nove volumes publicados.
Ainda vou escrever algum bastidor sobre as minhas aventuras
enquanto redigia “LLC” nos meus dispositivos móveis. Tem algumas histórias
curiosas, embora eu ache que não tão estranhas quanto esta. Quero postar
artigos sobre o enredo e os personagens também, mas neste momento, não sei como
fazer sem deixar como algo raso, ou sem dar spoiler.
No momento, vou fazer o que eu sei, que é me enrolar completamente me
despedindo, enquanto tento pensar em como convidar vocês para aparecerem no
próximo domingo.
Sendo assim, até... e, por favor, volte! (abraço de mãe)
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